Páscoa e Natal são datas que se assemelham, nasceram cristãs,
e se tornaram sinônimo de família reunida e muita comilança.. Sem julgar o
mérito disso, são fontes de lembranças para todo mundo que conheço: minha avó
fazia isso, minha tia trazia aquilo, sempre comíamos tal coisa, e como isso
esquenta o coração, não é??
E de lembranças doces eu sou recheada!
Na minha infância, na época de Natal, meu pai comprava uma
grande caixa cheia de três produtos: panetones, torrones e panfortes, de uma
marca que nem sei se existe (acabei de ver no Google, tá lá, no centro de
Sampa...), a panificadora Confital. Uma caixa de papelão grandona, ficava no “quartinho
escuro”, um hall de entrada sem janelas, também usado como “câmara de tortura”
nas deliciosas brigas de irmãos.
O panetone, mais perecível, durava até janeiro, no máximo
fevereiro, e era o de frutas, tradicional, não existiam essas melecas infantis
disfarçadas de comida de gente grande..
Já o torrone, com uma textura espetacular, uma camada de folha
de obreia (a mesma que se usa para fazer hóstias) por baixo, era consumido
quase num ritual, meu pai cortando os pedaços com uma tesoura, e distribuindo
numa consagração à família. Esse só era aberto quando estávamos todos juntos!
Mas a estrela da caixa, aquele diferente, que pouca gente
conhecia, era o Panforte... Panforte de Siena, uma receita tradicional
italiana, de um pão pesado, escuro, achatado, cheio de frutas secas, redondo,
com uma textura que lembra uma cocada artesanal, a folha de obreia no fundo e
um sabor totalmente adulto: um pouco doce, um pouco amargo, um pouco amendoado.
Abrir o Panforte era uma ocasião especial, e algumas vezes ainda havia o último
na Páscoa. É um sabor que para mim já não é mais nem um sabor, se tornou uma
referência..
Baseada nessa referência, criei uma “releitura” do
Panforte, com um sabor bem adulto também, não agradará muitas crianças... mas
com uns toques lúdicos, como o sal granulado e a pimenta habanero.
Também substitui uma barra de cereal com muito charme.
PANNÃOTANFORTE
½ xícara de
amêndoas laminadas
½ xícara de
sementes de girassol
½ xícara de
uvas passas
¼ xícara de
frutas cristalizadas picadas bem miúdo
¼ xícara de
damascos picadinhos
2 colheres
de cacau em pó
4 colheres
de farinha de trigo
2 colheres
de aveia em flocos
1 colher
(café) de sal granulado, ou ½ colher de sal comum
½ colher
(café) de pimenta habanero (ou piripiri ou calabresa) desidratada e moída
1 colher de
chia
3 colheres
de água
2 colheres
de óleo
½ xícara de
melado de cana.
Misturar as
castanhas e as frutas desidratadas. Peneirar a farinha e o cacau por cima e
misturar muito bem. Juntar a aveia, o sal e a pimenta, mexer muito bem e
reservar. Em uma tigelinha, misturar a chia e a água, deixando descansar por 10
minutos, até que forme um gel. Depois acrescentar o óleo e o melado, mexendo
bem. Derramar a calda nos ingredientes secos, e misturar tudo muito bem. Forrar
o fundo de uma pequena forma redonda, ou uma forma de bolo inglês com papel manteiga.
Untar tudo muito bem, com óleo ou manteiga.
Colocar a
massa, pressionando bastante com uma colher, até formar uma camada bem
compacta, de uns 2 cm de espessura, mais ou menos. Levar ao forno médio
(220graus), pré-aquecido, até que comece a soltar das laterais. Sirva com café
ou chá, e veja como minha infância foi rica!