Essa é a característica que separa alguém que terá
facilidade em se alimentar bem, e alguém que sempre toma isso como uma
obrigação pavorosa.
Eu simplesmente adoro entrar em um supermercado. E os
pequenos, então? Pode ser um daqueles mercadinhos charmosos, de coisas caras,
chiquérrimas, como endívias, estragão fresco, molho de ostra e outras loucuras
assim, ou uma venda de vila, onde você pode encontrar pinhão e jabuticaba
vendidos na medida de latas ou amendoim com casca na prateleira ao lado da banha
de fazer sabão ou da espiral de espantar pernilongos. Perco a noção do tempo
num lugar assim.
O bom senso ao pensar numa receita e o cuidado na compra dos
ingredientes fazem toda a diferença para uma alimentação de boa qualidade no
sentido mais amplo da expressão. Nas receitas dificilmente você terá todos os
detalhes sobre os ingredientes: existe uma infinidade de tipos de tomates,
laranjas, bananas, farinhas de mandioca, mandiocas, batatas, e um nhoque com
molho de tomates pode ser uma refeição soberba, digna de qualquer mesa ou uma
meleca disforme com um molho meio esverdeado, dependendo do tipo de
ingredientes que você usar. E olha só que interessante: a batata e o tomate
errados para o nhoque são perfeitos para uma salada de atum! Pense nisso,
quando falo em saber comprar não é aquela coisa óbvia de escolher o insumo em
bom estado e descartar o cheio de pontos escuros ou mofo: estou falando em
escolher o ingrediente certo para aquela preparação. Isso a gente só aprende
fazendo bastante e errando algumas vezes.
Encontre alegria em ir ao mercado, pois só assim poderá
encontrar a alegria de comer uma comida saudável, saborosa e feita sem
estresse. Não dá pra ser a parte chata da coisa, compreende?
Meu ex-marido sempre apreciou e se entusiasmou com o meu
amor pela cozinha. Porém, as tentativas dele sempre foram meio frustradas,
muita teoria e bastante bagunça na prática. Seguidas de frustração, quase
sempre. Até o dia que ele resolveu aprender a fazer molho de tomates. Ele ama
tomates, especialmente quando servidos quentes. Então, numa das noites em que
trabalhava até tarde e ele era responsável pelo jantar, entrou na internet,
procurou a receita, foi no mercadinho do nosso amigo Adilson e comprou
cuidadosamente os tomates do seu molho. Que ficou espetacular. A aí o Marco
começou a desenvolver esta técnica de fazer molho de tomate: ora picado, ora
batido, ora mais maduros ora menos, e dá pra ver o brilho de alegria nos seus
olhos com a sua culinária. Porque só é a nossa culinária se dominamos tudo, desde
a escolha dos ingredientes, não é?
Então meu querido leitor, feche essa janela e vá passear na
feira, no supermercado, observe tudo, veja alimentos novos, converse com aquela
pessoa que está demorando para escolher as laranjas, observe as diferenças
entre os bifes de contrafilé, leia os rótulos, apalpe.
Mas atenção: não aperte, não fique quebrando as pontas do
quiabo ou da vagem, não prove as frutas sem lavar, seja correto com quem vende
e com a sua saúde na hora das compras. Outra coisa muito feia é quando você
escolhe alguma comida que fica sob refrigeração, chega no caixa e desiste da
compra, largando o alimento ali, na temperatura ambiente. Das duas uma: ou o
supermercado devolve aquele alimento na prateleira e um coitado que não tem
nada a ver com isso compra comida estragada, ou a empresa descarta este
alimento e tem que cobrar mais caro pois há uma perda grande com estes
distraídos. Não tem problema desistir da compra, vc tem todo o direito, mas
devolva o alimento no lugar, ou pelo menos coloque-o em algum refrigerador por
perto.
Se a sua aversão às compras for insuperável, encontre um
parceiro. Que ame ir ao mercado.